Por Inajá Martins de Almeida
Durante a 3ª Feira do Livro da
cidade de Ribeirão Preto – agosto de 2002 – quando então Coordenadora do Projeto
Bibliotecas do Programa Ribeirão das Letras da Secretaria da Cultura,
deparei-me com uma pergunta que me fez repensar sobre meu papel dentro da Biblioteconomia.
Num dos estandes, uma das livreiras,
questionando minha paixão pelos livros, perguntou-me o porquê haver escolhido
tal profissão, dado o entusiasmo com que desempenhava as atribuições que me
foram conferidas e a familiaridade com que tratava o livro.
Parei um momento; jamais pensara
nisso – era-me natural estar entre livros – porém, mesmo tomada de sobressalto,
rapidamente respondi-lhe, formulando um conceito que passei a incorporar em meu
currículo:
– Em primeiro lugar, tornei-me Bibliotecária,
por opção – sim opção – porque pensara seguir a área da advocacia, entretanto,
por falta de opção de escola em minha cidade, e pela dificuldade em ausentar-me
dela, optei pela Biblioteconomia e Documentação; em segundo lugar por paixão –
pois não fora difícil apaixonar-me pelas aulas de literatura, história do
livro, cultura artística e científica e tantas outras, magistralmente
ministradas pela drª e profª Carminda Nogueira de Castro Ferreira – Dona Carminda
como carinhosamente a tratávamos – assim como pelas inúmeras matérias técnicas,
catalogação, classificação, referência e seleção bibliográfica, entre outras; em
terceiro e último, por convicção – sim convicção – posto que decorridos os
anos, já não pudera mais optar por outra formação a não ser a de Bibliotecária.
Estava convicta de que optara pela
profissão certa. A advocacia entraria em minha vida sob formas várias – nas
organizações de bibliotecas, nas assessorias junto a advogados, nas empresas
que atuava – e não me motivaram a querer agregar mais uma formação; queria sim
desbravar mais e mais o universo da Biblioteconomia, e o faço até hoje.
Ah! Os livros - desde cedo acostumei-me aos livros (ALMEIDA,
1) – amava-os – eles me desvendavam horizontes inimagináveis; proporcionavam-me
quebrar barreiras, abrir portas, aprender, criar, deslumbrar, vibrar.
Eles – os livros – levavam-me mais
longe ainda; agora eu podia tê-los, em grandes quantidades, nas mãos. Era-me
dado o direito de passear através dos seus conteúdos; conhecê-los, estudá-los,
transformá-los numa linguagem informacional, para, então colocá-los nas mãos dos
leitores, seus usuários.
Ah! Que prazer senti-los bem
perto, conhecer seus autores, seus editores; percorrer seus prefácios e
sumários, ler suas orelhas, valer-me de ferramentas técnicas para as
transformar em informação. Sim, tudo isso me dá prazer incalculável; leva-me a
desafios inimagináveis; aguça mais e mais meu senso crítico - este é o mundo
mágico da leitura.
A partir de então, a quem me
questiona sobre minha formação, esclareço que fora a opção, a paixão e a
convicção que me motivaram a atuar na área da Biblioteconomia e auferir de
benéficos prazeres no desenvolvimento do trabalho; mais ainda, o contato com os
livros, com seus escritores, levaram-me a ensaiar textos, criar falas, contar
histórias – a leitura me levou ao gosto pela escrita, quando então, movida por
inspiração de poeta, passo a declinar: – “Dê-me
uma meada de lã e eu teço um agasalho; dê-me uma palavra e eu formulo uma
frase; dê-me uma frase e eu escrevo um texto; dê-me um texto e eu componho um
livro”. (ALMEIDA, 2)
A partir desse momento, o texto -
O ato de ler – passa a fluir solto, permeando falas, conceitos vários,
compilações de leituras diversas, adaptadas no discorrer do verbo. Pude então
depreender que “todo escritor é antes de
tudo um leitor”, como nos exorta o acadêmico Moacyr Scliar (SCLIAR), e que "a leitura torna o
homem completo; a conversação torna-o ágil e o escrever dá-lhe precisão" segundo Francis Bacon.
Nessa jornada – entre livros – passei
por diversos tipos de bibliotecas tanto particulares, quanto de empresas
pequenas e grandes, assim como escolares desde a infantil, juvenil a
universitárias. Universos que se descortinaram à minha frente, para me fornecerem
subsídios nos diversos saberes do conhecimento humano.
Além do mais, minha formação em Biblioteconomia
possibilitou-me participar da implantação de bibliotecas, dentro do Programa
Ribeirão das Letras, promovido pela Secretaria da Cultura da Prefeitura
Municipal de Ribeirão Preto, num período de trinta meses, que, embora célere,
transformou minha vida profissional – abriu-me novas perspectivas no grande
leque da palavra e do saber.
Projeto ousado, cujo idealizador o
Jornalista, Professor, então Secretário da Cultura da Prefeitura Municipal de
Ribeirão Preto, Galeno Amorim, vislumbrava a implantação de 80 bibliotecas em
locais onde se fazia necessário, dado a precariedade de acesso a livros, leitura
e informação. A mim, como coordenadora de bibliotecas, competia desenvolver
projetos ligados à contratação e capacitação de estagiários, estímulo e
incentivo a leitura e, principalmente, a abertura de bibliotecas.
Nesse momento, voltava ao passado
e rememorava minhas aulas de referência bibliográfica, na então Escola de
Biblioteconomia e Documentação de São Carlos (atual UFSCAR), no início da
década de 70, quando nos era apresentado um personagem ilustre que marcou seu
tempo, ao abrir bibliotecas e formular a célebre teoria sobre as Cinco Leis da Biblioteconomia:
Shialy Ramamrita Ranganathan.
Pude então perceber que:
“O que foi é o que há de ser; e o que se fêz, isso se
tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se
possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós.
Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas posteriores também
não haverá memória entre os que hão de vir depois delas”. (ECLESIASTES)
Assim como nada é novo, criar bibliotecas,
voltar-se para o papel da leitura na formação do cidadão(ALMEIDA, 3), já fazia
parte dos anseios de Ranganathan, quando, preocupado com o ensino e pesquisa em
seu país, promove campanha para melhorar a biblioteca da Universidade de Madras
– Índia – onde se formara em 1916 e fora professor. Essa ocorrência, contudo,
iria mudar o curso de sua vida, assim como da Biblioteconomia em si.
Semelhantemente a esse fato, os
quatro anos – 2000 à 2004 – serviriam também para transformar o ritmo de uma
cidade interiorana de porte médio – Ribeirão Preto.
Foi um momento “efervescente”, segundo
Galeno Amorim, onde se falava em livros e bibliotecas, na mesma proporção em
que projetos culturais se desenvolviam nos quatro cantos do município.
Música, dança, teatro, ônibus
biblioteca circulando, levando consigo além dos livros, atividades de
contação de histórias, incentivo a prática artística várias, elaboração de
textos; escritores que se apresentavam em escolas, proporcionando o clímax
nas crianças, ao verem-nos saírem das páginas e se apresentarem em carne e
osso; cafés filosóficos com personagens e temas polêmicos (o ponto mais
marcante, na minha concepção, foi a presença do saudoso Waly Salomão, com sua
fala autêntica, desmistificada, irreverente) enfim, vivia-se a leitura em
suas diversas formas.
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Marcos de Moura e Souza noticia: –
“projeto multiplica número de livros em
Ribeirão e muda o padrão de leitura da população”(SOUZA); este era o
Programa Ribeirão das Letras.
Se o curso da vida de Ranganathan,
a partir desse momento, tomaria outros rumos, não fora diferente para Galeno
Amorim, tampouco para mim; aquele, alça então vôo alto, como só as águias podem
fazê-lo; eu, juntamente com alguns incentivadores da leitura, montamos a ONG
Educare est Vita, volto ao cenário das bibliotecas, agora como monitora, além
do que descubro um lado até então encoberto – o da escrita – momento em que
passo a escrever textos sobre leituras e bibliotecas; vez ou outra
disponibilizo em sites vários através da internet.
Estímulo maior ainda, passo a ter,
quanto então vejo meu texto “O Ato de Ler”, publicado no www.amigosdolivro.como.br, ser
indicado como tema motivador para a redação “O poder da transformação da
leitura”, no exame do ENEM 2006, juntamente com “O poder das letras” de Moacyr
Scliar, mais ainda, quando a Revista o publica em sua edição comemorativa.
Ranganathan, entretanto, em
Londres, vai obter sua formação em Biblioteconomia, quando se depara com W. C. Berwick Sayers – um dos seus
professores – que logo percebe seu potencial criativo e o incentiva ao campo
investigativo, posto que, dizia ser a Biblioteconomia "uma área que possuia como peculiaridade a
criação; o que aprendemos na Universidade e nos livros são somente os
princípios". (CAMPOS)
Acatando
as palavras do professor e incentivador sai a campo, mas logo se vê num grande
questionamento:
"Não seria
possível reduzir todos os agregados empíricos de práticas e informações a um
punhado de princípios básicos? Não seria possível aplicar o processo de
indução neste caso? Não seria possível alcançar todas as práticas conhecidas
pelo processo de dedução de algum dos princípios básicos? Não contém os
princípios básicos, como implicações necessárias, muitas outras práticas não
correntes ou conhecidas no presente? Elas não se tornarão necessárias, como e
quando mudarem as condições-limite colocadas pela sociedade?" (Ranganathan, Prolegomena) (CAMPOS)
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Detentor
de espírito investigativo, a partir das observações do trabalho e prática, que
a Biblioteconomia proporcionava, passa a teorização, quando então desenvolve as
Cinco Leis, as quais iriam nortear todo o trabalho da Biblioteconomia.
Ao encontrar-se com antigo professor de matemática, eis
que relata suas ansiedades pela busca incessante de resultados e, tomado de
assalto, Edward B.
Ross, orienta-lhe a formular sua primeira lei “livros são para serem usados"(CAMPOS).
As
outras quatro logo seriam declinadas (“a
cada leitor o seu livro”, “a cada
livro o seu leitor”, “poupe o tempo
do leitor”). Este fato ocorreu em 1928 e em 1931 sai publicada a primeira
edição do livro "As Cinco Leis da Biblioteconomia"; no mesmo ano criava-se
o primeiro Curso de Biblioteconomia na Índia.
Quando
pensamos nos livros como fonte de informação, logo nos vêm à mente os recursos
que devemos utilizar para a satisfatória transmissão do conhecimento. Assim,
registros, organização, armazenagem, preservação, devem ser pontos perceptíveis
para a transmissão de conhecimento para as gerações vindouras, e o Bibliotecário
se torna a ponte entre a informação e o usuário.
Entretanto,
muito embora todo ser humano tenha o direito de ser leitor em potencial, Ranganathan bem sabia que nem todos poderiam ter
acesso à informação, pelo simples fato de a desconhecerem, assim, tornava-se
imperioso que meios fossem disponibilizados para que o usuário chegasse ao
conhecimento.
Se
naquela época esse fato era marcante, nos dias atuais não vemos tanta diferença;
muito embora vivamos em plena era da informação, tanto na Índia, quanto no
Brasil e em inúmeras localidades do mundo – ainda que globalizado – muitos,
jamais pisaram uma biblioteca, outros, sequer viram um livro em sua frente.
Esta ainda é nossa realidade. Portanto, ter acesso a livros e bibliotecas,
muitas vezes torna-se uma questão de vontade política.
Foi
assim pensando, que Galeno Amorim – quem sabe, até mesmo desconhecendo Ranganathan
– partiu a campo e legou à sociedade um projeto audacioso de criação de 80
bibliotecas num período de quatro anos – 2000 à 2004.
Eu,
contudo, estudara as teorias de Ranganathan e comentava com Luis Eduardo Mendes
– assessor de Galeno – que me sentia como aquele Bibliotecário hindu, quando
preocupado com a formação do público leitor, via-me compartilhar esse sentir e,
no afã de levar conhecimento aos mais recônditos lugares, saia a campo – dado a
autoridade que me fora conferida – indicava perspectivas, buscava parceiros,
abria espaço, instalava uma biblioteca – para alguns, mais exigentes, com o que
podemos chamar de biblioteca, apenas uma sala de leitura.
Enfim,
não importa, se bibliotecas, mini-bibliotecas, ou salas de leitura, o que
importa salientar, é que elas aconteceram e, puderam trazer um novo sentido,
aos ânimos de uma população, sedenta em desbravar o mundo encantado dos livros
e da leitura.
Hoje,
contudo, mesmo que algumas delas estejam desativadas, suas portas fechadas, a
semente lançada em solo fértil – do
livro e da leitura – jamais deixará de
dar seus frutos; de minha parte, jamais tive dúvida da repercussão do grande Programa
implantado, tanto que, ao voltar – agora não mais como Coordenadora, mas sim
como Técnica, juntamente com outras cinco Bibliotecárias – não meço esforços
para legar à população, bibliotecas informatizadas e preparadas para a pronta
recuperação da informação, porque “a educação de um povo é uma vontade política”(CAMPOS),
segundo palavras do nosso personagem Ranganathan, quando a questionar nos
premia com sua segunda lei.
Quando
pensamos na possibilidade de que cada leitor tenha seu livro, vislumbramos o
livre acesso ao conhecimento. Neste ponto o papel do Bibliotecário se torna
fundamental, posto que ele passa a ser o mediador entre o leitor e a informação
– entra aqui o Bibliotecário, não mais como simples técnico, mas também como educador,
o qual se completa com o enunciado da 3ª lei.
Aqui
o Bibliotecário, além de facilitador da informação, deverá ter plena
consciência do seu papel social e de educador, fornecendo aos leitores
informações adequadas às suas necessidades, respeitando suas individualidades.
Esse
respeito é o que propõe Ranganathan quando menciona os diversos tipos de
usuários, assim como diferentes bibliotecas e formas de organização do
acervo.
Mais
uma vez me deparei com semelhanças no Projeto Bibliotecas do Programa Ribeirão
das Letras – diferentes tipos de bibliotecas para diferentes grupos de pessoas:
bibliotecas escolares, de entidades de classe, de filantropia, de sindicatos.
Uma voltada a cegos, com acervo em braile, outra voltada a teatro, com peças e
literatura da área, outra dando ênfase maior a literatura infantil, e assim por
diante.
“Aos poucos, cada biblioteca ganha cara
própria”(SOUZA), noticia então a imprensa. Embora possuidoras de acervo
básico, comum a todas, nas peculiaridades individualizava-se, enquadrando-se
nitidamente na 3ª lei de Ranganathan que, levada à lume nos idos 1931, parecia-me
atual nos primórdios do século XXI.
Estava
eu experimentando e vivenciando o mesmo que Ranganathan em sua época.
A
organização, contudo, iria assegurar a 4ª lei, uma vez que biblioteca não se
caracteriza por ser depósito de livros e sim um ambiente vivo e vibrante, onde
pulsa o conhecimento.
Agora
a preocupação de Ranganathan era disponibilizar veículos adequados para que a
informação estivesse nas mãos dos usuários, em tempo oportuno.
Técnicas
deveriam ser utilizadas pelo Bibliotecário, no intuito de dinamizar e agilizar
a recuperação da informação para o leitor.
Embasada
na adaptação e criação de métodos estabelecidos, não dispondo – ainda – de
recursos informacionais, incorporamos a fala de Ranganathan e a introduzimos ao
Projeto Bibliotecas do Programa Ribeirão das Letras, nesse primeiro momento, posto
que, segundo Galeno, “ou criávamos as
bibliotecas para depois prepará-las tecnicamente, ou não as criávamos: optamos, então, por criá-las”.
Após
essa fala, clara e objetiva, como Bibliotecária, assumindo a Coordenadoria do Projeto,
percebi que o desafio, que se descortinava, iria abalar a sociedade e
repercutir fora das quatro paredes do município. Realmente o Projeto ganhou
projeção nacional e na América Latina, mesmo com as falhas naturais de um
grande Programa de implantação de bibliotecas.
Ranganathan
incentivava então o Bibliotecário a não aceitar simplesmente ser um
disseminador de informação, com profundos conhecimentos técnicos, mas,
sobretudo, valer-se de novos métodos e instrumentos, para levar essa mesma
informação ao usuário.
Se
Ranganathan objetivava tal conduta – tal prática – lá estavam as bibliotecas do
Programa Ribeirão das Letras, sendo tratadas sob diversos aspectos, levando
informação à comunidade, assim como lá estava eu, apoiando e incentivando esses
espaços que, agora, eram reais – haviam saído do papel; ganhavam vida, claro,
sob o aval de Galeno Amorim.
José
Mindlin, numa de suas visitas à nossas bibliotecas dizia que para ele o
importante era ter acesso à informação e ao livro, não se preocupando com as regras
rígidas da Biblioteconomia, não que essas não fossem necessárias e
facilitadoras, contudo, a posse do livro e sua leitura, tinha maior
significado. Apoiava completamente o trabalho que estava sendo desenvolvido.
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Assim,
mais um grande homem dos livros – o maior bibliófilo e acadêmico brasileiro –
preocupava-se com o destino dos livros – claro, nas mãos dos usuários – do que
propriamente com a técnica dispensada para colocá-los em suas mãos.
Hoje,
bem sabemos que dispomos de recursos informacionais de ponta, onde com a
utilização de computadores, informações são armazenadas e recuperadas
prontamente – a Internet diminui distâncias; Ranganathan, entretanto, sequer
sonhava com a utilização dessa tecnologia, eu tampouco, em minha época de
estudante, idos de 1970, jamais pudera supor valer-me e usufruir de tais avanços,
todavia, evidenciava nesta 4ª lei, que o Bibliotecário não aceitasse métodos e
técnicas estabelecidas, porém que os criasse e os adaptasse aos interesses dos
usuários.
Assim,
seguia o Programa que, mesmo na era da informação, da tecnologia, valia-se de
recursos técnicos básicos, para não perder o objetivo e foco central –
disponibilizar bibliotecas e livros aos quatro cantos da cidade.
Ele
– Ranganathan – não pode usufruir das facilidades que os meios informacionais
trariam para a Biblioteconomia, eu, contudo, hoje não me vejo sem essas
ferramentas, as quais se tornam imprescindíveis e indispensáveis para o
desempenho do profissional Bibliotecário, na disseminação da informação.
Entretanto,
mesmo que, por algum motivo ou razão, utilizemos métodos empíricos no trato das
bibliotecas, jamais poderemos nos distanciar da 5ª lei, que já pensava na
biblioteca como uma organização em franco desenvolvimento e crescimento, e o Programa
deixou uma abertura que o permitiria estar inserido na tecnologia atual. Hoje, algumas
dessas bibliotecas estão sendo informatizadas.
Com
esse enunciado, Ranganathan lega-nos seu Método Científico que se caracteriza
por um movimento sem fim em espiral.
Assim,
se a biblioteca é um organismo em constante movimento e desenvolvimento, o Bibliotecário
deverá ter bem definido seu papel como educador, mais do que disseminador da
informação.
Com minha experiência em diversos locais e trabalhos em
bibliotecas, deparei-me com situações que me propiciaram usar e abusar das Cinco
Leis da Biblioteconomia.
Muitas vezes criticada, posto que me apartava das regras
rígidas da catalogação, não encontrava dificuldades em fornecer informações
precisas, quando estas eram buscadas pelos usuários, não me importando quais os
recursos que usara para a finalidade a que me propusera – legar informação.
Não me intimidava ao jogar palavras nos programas de
computadores, muitas das vezes idealizados por mim, para facilitar o acesso à
informação. Algumas dessas iniciativas, custaram-me o posto, porém, não
conseguiram extirpar meu senso criativo, o prazer, o gosto e o zelo de tratar o
usuário individualmente, ao contrário, fortaleceu ainda mais minha crença no
conceito da opção, paixão e convicção. Afastaram-me do cargo, porém, abriram-me
novas perspectivas.
Percebo hoje que os profissionais estão mais preocupados com
os termos pelos quais deverão ser distinguidos profissionalmente: uns Cientistas
da Informação, outros Biblioteconomistas, outros tantos Profissionais da Informação
eu, contudo, gosto e faço questão de ser abordada como Bibliotecária e, creio
ser o termo mais adequado para individualizar o profissional da área da Biblioteconomia.
Acima de qualquer denominação, o importante são os valores
e o significado que aplicamos a disseminação da informação, tanto quanto o
trato e respeito para com a individualização do leitor, pois nosso papel na
sociedade tem essa função – social, educacional, disseminadora – uma vez que
detemos conhecimento em nossas mãos.
Podemos com ele – o conhecimento – transformar, interagir,
trazer à lume aqueles que estavam, por desconhecimento, vivendo no
obscurantismo do saber.
Podemos ser partícipes de processos de transformação –
conosco detemos o conhecimento e este é moeda corrente.
Podemos caminhar livremente – contar história, fazer
história, relatar a história, ser, enfim, a própria história – posto que “os livros nos tornam livres”, segundo o conceito
imortalizado por Monteiro Lobato, e nos fazem voar com asas de águia.
Podemos sim – e porque não – sermos Ranganathans do século
XXI. Eu o fui e, continuo sendo.
Bibliografia consultada:
ALMEIDA,
Inajá Martins de. Livros. In:
http://www.paralerepensar.com.br/inaja_livros.htm e http:www.amigosdolivro.com.br
_______ . O ato de ler. In: http://www.amigosdolivro.com.br
_______ . O papel da leitura na formação do cidadão. In:
http:www.ofaj.com.br
BÍBLIA SAGRADA. O Eclesiastes
1:9/11
CAMPOS, Maria Luiza de Almeida.
As cinco leis da biblioteconomia e o exercício profissional. In: http://www.conexaorio.com/biti/mluiza/index.htm
SCLIAR, Moacyr. O poder das letras. In: TAM MAGAZINE. jul.2006, p.70, com
adaptações
SOUZA, MARCOS DE MOURA E. Mais
bibliotecas. Com elas novos leitores.
In: O Estado de São Paulo, 7.12.2003.
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