“Defendo que todo bibliotecário é, fundamentalmente, um intelectual,
ou seja, como disse Foucault, um sujeito que tem por papel
‘mudar algo no espírito das pessoas’.
Um bibliotecário letárgico é, portanto, um engodo,
um desserviço à sociedade”, afirma Santos.
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Barrado na escola por uniforme velho, vendedor de cocadas faz 5 faculdades
Ele era criticado por não ter mochila, usar tênis gasto e ser filho de pedreiro.
Hoje bibliotecário da Câmara, homem tem livro indicado ao Prêmio Jabuti.
O brasiliense Cristian Santos não tem dúvidas de que a paixão pela leitura o permitiu mudar de vida. Vendedor de cocadas na infância e na adolescência para ajudar os pais, ele chegou a ser impedido de assistir aulas em uma escola pública por não ter condições de comprar um uniforme novo. O jovem se refugiava das críticas dos colegas na biblioteca, onde encontrou livros que o ajudaram a ingressar na universidade e conquistar cinco graduações.
Aos 19 anos, o garoto conseguiu estágio e passou a ganhar R$ 250 por mês. O dinheiro foi usado em um cursinho preparatório para o cargo de técnico judiciário. Aprovado, ele deixou de vender cocadas e passou a sustentar os pais e as cinco irmãs.
Outras formações e prêmios
Após concluir biblioteconomia, Santos foi aprovado em primeiro lugar no concurso do Superior Tribunal de Justiça para o cargo de bibliotecário. Na mesma época ele passou a apresentar, na condição de bolsista, trabalhos científicos na Argentina, Finlândia, Noruega e Estônia.
“Numa tarde chuvosa, fui a uma daquelas lojas de R$ 1,99 a pedido de minha mãe. Encontrei numa estante de canto 'A morte de Ivan Ilitsch'. Voltei para casa sem o escorredor de macarrão, mas na companhia de Tolstoi. A novela me feriu, e minha paixão pela literatura alcançou um nível alarmante. Acabei me graduando em língua e literatura francesas e depois em tradução. Nesse período, estudei por três meses na Universidade Laval, Canadá, graças à hospedagem gratuita de uma família católica”, diz.
O homem fez ainda filosofia e teologia, além de mestrado em ciência da informação – a dissertação foi premiada em um concurso na Argentina. Ele chegou a ser admitido para o curso anual da Scuola Vaticana di Paleografia, mas não pôde fazer porque não foi liberado pela direção do STJ.
Depois, o ex-vendedor de cocadas fez doutorado em literatura e práticas sociais. Os estudos o levaram a se aprofundar na obra de Michel Foucault e o estimularam a se preocupar em ser mais humanista e culto.
“Defendo que todo bibliotecário é, fundamentalmente, um intelectual, ou seja, como disse Foucault, um sujeito que tem por papel ‘mudar algo no espírito das pessoas’. Um bibliotecário letárgico é, portanto, um engodo, um desserviço à sociedade”, afirma Santos.
A tese dele virou livro e aborda a representação de padres e beatas na literatura. “Na obra, discuto as razões pelas quais a literatura do país representa os personagens religiosos de forma caricata, sempre associados ao atraso moral e econômico. ‘Devotos e Devassos’ acaba de ser indicado para o Prêmio Jabuti em duas categorias: melhor crítica literária e melhor capa.” leia a matéria em sua íntegra
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