É doutora em Letras Românicas pela Universidade de Coimbra; mestre em Biblioteconomia (com a tese então revolucionária denominada O método Keller no Ensino da História do Livro – Um Curso Programado Individualizado); pós-graduada em Ciência da Informação e Administração de Empresas, com especialização em Organização e Métodos (O&M). Dedicou-se à organização de arquivos empresariais e públicos; implantou importantes centros de documentação (como os da Associação Brasileira de Cimento Portland, da TAM, do Itaú etc); e, também, foi professora. Atualmente, presta serviços em dois grandes escritórios de advocacia, como consultora em língua portuguesa, e em empresa de treinamento à distância.
Atenta à evolução das tecnologias da informação e da própria Biblioteconomia, defende a cooperação entre as duas áreas. Acredita ser indispensável que os funcionários dos arquivos tenham formação acadêmica nas áreas de Biblioteconomia ou de Arquivologia, e que os analistas de sistemas e os programadores não realizam grandes projetos de informação sem a assistência desses profissionais.
A vinda para o Brasil
Meu sogro, pioneiro da indústria são-carlense, fundou, no começo do século passado, uma grande serraria para instalar a linha férrea da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, na Alta Araraquarense (hoje formada pelos municípios de Araraquara, Votuporanga, Jales, Fernandópolis, na zona oeste do Estado de São Paulo). Após anos de trabalho intenso, entregou a gerência da empresa a um colaborador de sua confiança e foi para Portugal. Em Coimbra, instalou-se com a família em um palacete na estrada da Beira, hoje avenida Brasil. Por motivos familiares meu marido foi designado pelos pais e irmãos para assumir a direção da empresa. Casada havia seis anos, já com três filhos e grávida do quarto, tive que acompanhá-lo. Cheguei a São Carlos, em São Paulo , no dia 20 de outubro de 1948 e, no dia 23 de novembro (quase um mês depois), nasceu o meu quarto filho.
O começo da vida em São Carlos
A minha formação na Universidade de Coimbra dava-me direito apenas a lecionar no 3º grau. Recebi até um convite do Prof. Antônio Soares Amora para dar aulas na recém-fundada faculdade de Franca. Para lecionar nos níveis de ensino que existiam em São Carlos (antigos 1º e 2º graus), teria que fazer a equiparação do meu diploma em São Paulo. Com filhos pequenos, não podia ausentar-me da cidade e aproveitei, por sugestão do delegado regional de ensino, José Geraldo Keppe, para freqüentar os cursos de férias, proporcionados pelo Ministério da Educação na Campanha de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário (CADES), que se realizavam na Seccional de São Carlos nos meses de janeiro e fevereiro. Obtive, assim, o registro no MEC para lecionar Português, Francês, Latim e até Grego. Passei a dar aulas no tradicional colégio feminino de São Carlos (Irmãs Sacramentinas) e me envolvi totalmente nas campanhas educativas daquela cidade, desde a fundação da Escola de Engenharia da USP até a fundação da Universidade Federal.
A descoberta da Biblioteconomia
A Biblioteconomia era, até 1960, considerada de nível médio, e três bibliotecários da Escola de Engenharia, para atender a falta de pessoal especializado, resolveram fundar uma escola profissional. A grande líder Laura Russo trabalhava incansavelmente junto ao deputado Rogê Ferreira para dar ao curso de Biblioteconomia o “status” de 3º grau. E conseguiu (Lei 4084/62).
Então, para consolar meu filho mais velho que, tendo terminado o “científico”, não conseguiu entrar na Escola de Engenharia, propus-me a fazer com ele a nova faculdade de Biblioteconomia, que funcionava na Escola de Engenharia. Já mãe de dez filhos, usei o pretexto de acompanhar o meu filho mais velho na nova faculdade, para que meu marido consentisse nessa “loucura”. E, assim, acabei por me formar quatro anos depois na nova profissão de nível superior que, pelo conteúdo programático, me deslumbrou. Quase no final do curso, nasceu minha filha Cristina que herdou, desde o ventre materno, o amor à Biblioteconomia. Após a formatura, permaneci na Escola como professora e presidente da Fundação Mantenedora.
A importância das entidades de classe
Às entidades de classe tenho dado uma grande parte da minha vida. Atuei em entidades como o CRB 8ª Região, a Associação Paulista de Bibliotecários (APB), a Associação de Bibliotecários São-Carlenses, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB), o grupo 21 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) etc. Creio que o fato de a profissão não ter, por parte da sociedade, o merecido reconhecimento, deve-se principalmente à falta de participação dos bibliotecários em entidades de classe.
Entrevista concedida a Ana Célia Moura Bibliotecária e jornalista
Boletim Informativo CRB 8ª Região Conselho Regional de Biblioteconomia - 8ª Região - Estado de São Paulo Ano 14 - N° 1 - 2007
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