terça-feira, 3 de agosto de 2010

Paixão por livros

Texto de Inajá Martins de Almeida


Durante a 3ª Feira do Livro da cidade de Ribeirão Preto – agosto de 2002 – quando então Coordenadora do Projeto Bibliotecas do Programa Ribeirão das Letras da Secretaria Municipal da Cultura, deparei-me com uma pergunta que me fez repensar sobre meu papel dentro da Biblioteconomia.

Num dos estandes, uma das livreiras, questionando minha paixão pelos livros, perguntou-me o porquê haver escolhido tal profissão, dado o entusiasmo com que desempenhava as atribuições que me foram conferidas e a familiaridade com que tratava o livro.



Parei um momento; jamais pensara nisso – era-me natural estar entre livros – porém, mesmo tomada de sobressalto, rapidamente respondi-lhe, formulando um conceito que passei a incorporar em meu currículo:


OPÇÃO: Em primeiro lugar, tornei-me Bibliotecária, por opção – sim opção – porque pensara seguir a área do Direito, entretanto, pela falta, opção de escola em minha cidade e dificuldade em ausentar-me, optei pela Biblioteconomia e Documentação. 


- PAIXÃO: Em segundo lugar por paixão – pois não fora difícil apaixonar-me pelas aulas de literatura, história do livro, cultura artística e científica e tantas outras, magistralmente ministradas pela drª. e profª. Carminda Nogueira de Castro Ferreira – Dona Carminda como carinhosamente a tratávamos – assim como pelas inúmeras matérias técnicas.


- CONVICÇÃO: Em terceiro e último, por convicção – sim convicção – posto que decorridos os anos, já não pudera mais optar por outra formação a não ser a de Bibliotecária.
Estava convicta de que optara pela profissão certa. A advocacia entraria em minha vida sob formas várias – nas organizações de bibliotecas, nas assessorias junto a advogados, nas empresas que atuava.


Ah! Os livros - desde cedo me acostumei aos livros – amava-os – eles me desvendavam horizontes inimagináveis; proporcionavam-me quebrar barreiras, abrir portas, aprender, criar, deslumbrar, vibrar.


Eles – os livros – levavam-me mais longe ainda; agora eu podia tê-los, em grandes quantidades, nas mãos. Era-me dado o direito de passear através dos seus conteúdos; conhecê-los, estudá-los, transformá-los numa linguagem informacional, para, então colocá-los nas mãos dos leitores, seus usuários. Além do mais, a leitura me levava à escrita, quando então passo a escrever textos e divulgá-los através da internet, com vistas à edição do meu primeiro livro.

Nessa jornada – entre livros – passei por diversos tipos de bibliotecas tanto particulares, micro, média e grandes empresas, assim como escolares – desde a infantil, juvenis a universitárias. Universos que se descortinaram à minha frente, para me fornecerem subsídios nos diversos saberes do conhecimento humano.

Ademais, minha formação em Biblioteconomia possibilitou-me participar da implantação de bibliotecas, dentro do Programa Ribeirão das Letras, da Secretaria da Cultura da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, num período de trinta meses, embora célere, transformou minha vida profissional – abriu-me novas perspectivas no grande leque da palavra e do saber.

Projeto ousado, cujo idealizador o então Secretário da Cultura, Galeno Amorim, vislumbrava a implantação de 80 bibliotecas em locais onde se fazia necessário. A mim, como coordenadora, competia desenvolver projetos ligados à contratação e capacitação de estagiários, estímulo e incentivo a leitura e, principalmente, a abertura de bibliotecas.

Nesse momento, voltava ao passado e rememorava minhas aulas de referência bibliográfica, na então Escola de Biblioteconomia e Documentação de São Carlos (atual UFSCAR), no início da década de 70, quando nos era apresentado um personagem ilustre que marcou seu tempo, ao abrir bibliotecas e formular a célebre teoria sobre as Cinco Leis da Biblioteconomia: Shialy Ramamrita Ranganathan.

Pude então perceber que: “o que foi é o que há de ser; e o que se fez isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós. Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas posteriores também não haverá memória entre os que hão de vir depois delas”.(ECLESIASTES 1:9/11)

Assim como nada é novo, criar bibliotecas voltar-se para o papel da leitura na formação do cidadão, já fazia parte dos anseios de Ranganathan, quando, preocupado com o ensino e pesquisa em seu país, promove campanha para melhorar a biblioteca da Universidade de Madras – Índia. Essa ocorrência, contudo, iria mudar o curso de sua vida, assim como da Biblioteconomia em si, nos idos 1916.

Semelhantemente a esse fato, os quatro anos – 2000 a 2004 – serviriam também para transformar o ritmo de uma cidade interiorana de porte médio – Ribeirão Preto.

Foi um momento “efervescente”, segundo Galeno, onde se falava em livros e bibliotecas, na mesma proporção em que projetos culturais se desenvolviam nos quatro cantos do município, quando então a imprensa então noticiava: – “projeto multiplica número de livros em Ribeirão e muda o padrão de leitura da população”; este era o Programa Ribeirão das Letras.

Se o curso da vida de Ranganathan, a partir desse momento, tomaria outros rumos, não fora diferente para Galeno, tampouco para mim, quando tenho oportunidade de  travar sólido relacionamento com o pensador Elanklever – Elvio Antunes de Arruda - e temos a mostrar aonde nossa paixão pelos livros nos levariam, quando em janeiro de 2007 lançamos a primeira edição do livro “Definições Reflexivas: grandes detalhes”, de sua autoria, com vista a outras. 
Ademais “de fazer muitos livros não há fim”. (Eclesiastes 12:12)

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na foto Inajá quando então bibliotecária no Centro Universitário Barão de Mauá em Ribeirão Preto - 1998


CONTATO: inaja.ima@gmail.com

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